- 26 de novembro de 2024
A herança lulista na política
BRASÍLIA - Lula está a uma semana de deixar o Palácio do Planalto. Depois de oito anos de poder, seu maior legado político foi ter conseguido terminar o mandato e ajudado a consolidar a democracia.
Há muitas décadas um presidente não era eleito pelo voto direto para suceder alguém escolhido da mesma forma. É comum ouvir comentários sobre como está enfadonha a política durante disputas presidenciais. Trata-se de um sinal de maturidade. Lula tem crédito por ter ajudado a criar esse ambiente.
Mas há aspectos negativos na herança lulista na política. Os péssimos costumes na relação entre Poder Executivo e Congresso continuaram a ser uma praxe.
Lula, é claro, não inventou as maracutaias na política. Seu pecado foi ter feito pouco ou nada para ajudar a melhorar os padrões. Pelo contrário, o petista jogou a favor de procedimentos que turbinaram o pior do varejo não ideológico.
Basta olhar para a inédita fragmentação dentro do Congresso. Em 2002, quando Lula foi eleito presidente, havia 15 agremiações representadas. Em 2011, serão 22 legendas. Desde 1990, quando o Brasil adotou um modelo mais estável de regras eleitorais, nunca houve tantas siglas no Poder Legislativo.
Nada contra a existência de partidos variados. Que floresçam as mil flores. Mas há dois problemas. Primeiro, só deve ter assento no Congresso quem tem real apoio popular (não é o caso de muitos nanicos). Segundo, não é plausível existirem no Brasil -ou em qualquer outro país do planeta- 22 ideologias diferentes e irreconciliáveis.
Parte expressiva dos nanicos só está no Congresso por desejo de Lula. Foi a estratégia para eleger Dilma Rousseff como sua sucessora. O PT submeteu-se ao lulismo "con gusto". Aliou-se a uma certa escória partidária nos Estados. A presidente eleita, beneficiária desse truque nas urnas, terá a difícil missão de tentar consertar essa anomalia nos próximos quatro anos.