00:00:00

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Quércia, política e negócios


Quércia, política e negócios

SÃO PAULO - Na campanha presidencial de 1994, Quércia e Lula protagonizaram uma troca de acusações famosa: "O Lula nunca dirigiu nem um carrinho de pipoca", disse o peemedebista. "É verdade que eu nunca dirigi um carrinho de pipoca, mas também nunca roubei a pipoca", retrucou o petista.
Fernando Henrique Cardoso foi eleito naquele ano, montado no Plano Real, e Quércia amargou o quarto lugar, com pouco mais de 4% dos votos, atrás de Enéas Carneiro, do nanico Prona. O PT, então, ainda alimentava a veleidade de ser uma referência ética na política brasileira. O lulismo zerou esse jogo. Nenhuma força partidária consegue ter hoje o monopólio dessa bandeira, que é de todos na retórica e na prática de ninguém.
Orestes Quércia estava sem mandato havia 20 anos. Já era um milionário da política no início dos anos 90, quando começam as tentativas frustradas de se eleger e o seu declínio. Manteve, porém, controle sobre o PMDB paulista, embora, com o tempo, sua liderança fosse cada vez mais negociada com Michel Temer, o cacique emergente.
Diferente do malufismo, enraizado no voto conservador da capital, o quercismo teve forte acento caipira. O centro da sua base social era o interior do Estado. Em parte, sem dúvida, pela sua origem -natural de Pedregulho, começou como vereador e depois prefeito de Campinas. Mas sobretudo porque seu governo, entre 1986 e 1990, se voltou à interiorização do desenvolvimento, plasmada na imagem do homem que abriu e duplicou estradas.
Em 1974, Quércia obteve uma das vitórias mais expressivas contra a ditadura, ao derrotar Carvalho Pinto, da Arena, na disputa ao Senado. Sua biografia, porém, está menos ligada à história da redemocratização do que à trajetória de desbravador do progresso. Quércia tinha a alma bandeirante. Foi um empreendedor, não um formulador. Fez da política um grande negócio, mas nunca conseguiu deixar de fazer negócios com a política.
 

Últimas Postagens