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FRANCISCO ESPIRIDIÃO

Paz e tranquilidade


\"\"Paz e tranquilidade

A presidenta eleita Dilma Roussef engrossou o pescoço nesse fim de semana. Em entrevista concedida ao jornal americano The Washington Post, ela se declarou contrária à política de relações exteriores adotada pelo seu criador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no que concerne ao Irã do celerado amigo Mahmoud Armadnejad.

Dona Dilma disse, sem meias palavras, para espanto do presidente Lula, ser contrária à prática de apedrejamento de mulheres e outras ações medievais. Criticou também a postura da Diplomacia brasileira, que ficou sobre o muro com relação à resolução da ONU, que condenou o Irã por violação dos direitos humanos.

“Minha posição não mudará quando eu assumir o cargo. Não concordo com a forma como o Brasil votou... (abstendo-se quanto à resolução)”, declarou Dilma. Muito bom, presidenta! Nisso, a senhora tem o meu mais completo apoio. É assim que se fala. Mas...

Pensando bem, será que a presidenta está mesmo com essa bola toda? Será que ela tem cacife para bater asas e garantir voo perene, independente? O tabuleiro do xadrez onde o jogo está sendo jogado desmente tal afirmativa. Pelo que se tem visto até agora, há uma quilométrica distância entre as palavras e a prática.

Tudo começa pela auréola que a rodeia, especialmente na composição do Ministério. Ainda falta a batida do martelo, mas é possível que pelo menos 11 dos 37 atuais ministros de Lula sejam empossados no Ministério, em 1º de janeiro, ainda que em postos diversos dos que ocupam hoje, mas todos da mais alta importância estratégica.

Dois estão confirmados: Guido Mantega continua na Fazenda e Wagner Rossi, na Agricultura. Fernando Haddad deve ser convidado a permanecer na Educação, Alexandre Padilha, nas Relações Institucionais, Nelson Jobim, na Defesa, Carlos Lupi, no Trabalho e Orlando Silva, nos Esportes.

Paulo Bernardo deve trocar o Planejamento pelas Comunicações, Gilberto Carvalho saltará da Chefia de Gabinete para fungar no cangote da presidenta, vai para a Secretaria Geral. E, pasmem, Antônio Palocci, defenestrado alhures da Fazenda, em situação nada cômoda, sacode a poeira e dá a volta por cima. Assumirá a chefia da Casa Civil. Tem ainda o Lobão, não aquele que come criança, mas o Edison, que volta às Minas e Energia.

Comendo pelas beiradas, como se faz com mingau quente, Lula vai aos poucos, ele mesmo, desenhando a cara do Governo Dilma. O mais "expressionante" de tudo é a presença de Palocci na Casa Civil.

Parece que o quase ex-presidente, por não confiar no taco da sua criatura, se viu na obrigação de pôr alguém com o cacife de um Palocci nos calcanhares dela, a fim de garantir o sucesso do empreendimento.

No mais, é tudo tranquilidade e paz no reino da alegria. Pelo menos por enquanto. Nada como esperar o Carnaval passar para se saber, de fato, o rumo dessa nau.

(*) Jornalista, e-mail: [email protected]

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