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Crônica do Aroldo

Chifre e desgraças


 Chifre e desgraças
 
Nezinho é o cara. Jovem, bonito, bem humorado, tem todas as armas para fazer sucesso entre as mulheres. Elas adoram a companhia do pagodeiro. É. Pra completar, Nezinho é pagodeiro de primeira linha.
Tem samba? Ele tá dentro. Cuíca, agogô, atabaque, repique, reco-reco... Percussão, ele manda ver. Nezinho também arrisca uns acordes em cavaquinho, bandolim e banjo.

Dinorá, a mulher de nosso herói, se incomoda – E muito! – com a vida mundana do companheiro. Ultimamente, vem marcando de perto. Se ele demora a chegar, os telefonemas começam a pipocar.

Na sexta-feira, a moçada se reuniu para um partido-alto na casa de Nego Tôim. Nezinho, claro, tava lá.

Às 23 horas, Dinorá faz a primeira ligação:

- Nezinho, a que horas você vem pra casa?

- Assim que acabar a cerveja e o samba, meu bem...

À meia-noite e meia, Dinorá ligou de novo. Nezinho, depois de ouvir reclamações e nhem-nhem-nhéns, cortou: "Porra, amor, dá um tempo..."

Já era madrugada de domingo, duas e quarenta cinco, Dinorá ligou de novo e resolveu abrir o verbo:

- Olha, Nezinho, assim não dá! Sei que tem umas periguetes por aí e você não é flor que se cheire... Não vou admitir levar chifre dessas vagabundas...

Nezinho armou-se de muita calma e contemporizou:

- Porra, meu bem... Depois dos terremotos o pessoal do Haiti tá sofrendo com epidemia de cólera; na Indonésia, milhares de pessoas não sabem o que fazer depois do recente tsunami; nosso partido ainda não se refez da derrota na política; o Rio de Janeiro está vivendo o caos, com as Forças Armadas e os bandidos trocando tiros... Com tanta desgraça, você fica se preocupando com chifre? Para com isso, meu bem.

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