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FRANCISCO ESPIRIDIÃO

A saúde debaixo do tapete


A saúde debaixo do tapete

Entre 2005 e 2009, o país perdeu 3,9% dos estabelecimentos de saúde com internação. Isso significa tão-somente  a bagatela de 280 hospitais a menos para o brasileiro se internar para tratar as agruras na área da saúde, setor que, aliás, já não andava e nem anda tão bem das pernas assim.

Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a perda ocorreu exclusivamente no setor privado, enquanto que no público – hospitais e postos de saúde –, houve um incremento da ordem de 4,1%. 

Traduzindo esse porcentual em números reais, na rede particular, foram eliminadas 392 unidades, ao mesmo tempo em que, no público, houve a criação de 112 novas unidades. Nessa brincadeira, sumiram na fumaça 11.214 leitos.

Salvo engano, isso seria motivo para minuciosa análise. Ocorre que ainda não consegui visualizá-la. Minha dúvida é se isso se dá por condescendência com os estratosféricos níveis do moribundo governo Lula, cuja aprovação bate nas nuvens, ou por não ser, de fato, pertinente.

No popular, a iniciativa privada visa sempre o lucro, pouco importando o segmento em questão. Se estabelecimentos destinados à internação de doentes fecham sistematicamente as portas é porque perderam a capacidade de gerar lucros expressivos que lhes justifiquem a perenidade.

E se, por conseguinte, o setor não gera os dividendos esperados é porque não existe um segmento social nele interessado. É aí que se vislumbra o calcanhar de Aquiles.

Duas grandes questões saltam aos olhos. A primeira: será que o serviço prestado pelo setor público está mesmo ali, na ilharga do seu congênere oferecido pelos países do Primeiro-Mundo? Se é verdade – o que não parece – teríamos todos de dar a mão à palmatória, reconhecendo que o presidente Lula da Silva é mesmo “O cara!”.

A segunda, que parece a mais plausível, e, por isso mesmo a causa maior de desconfiança nos níveis de aprovação do governo, é que a população no geral, e em particular a classe média, perdeu poder aquisitivo a ponto de se desfazer do plano de saúde que lhe permitia buscar internação digna em estabelecimentos da rede privada de saúde.

Enquanto a discussão dormita sob o tapete, prossigamos navegando nesse mar agitado de nossas vicissitudes cotidianas, fingindo que ninguém neste país morre em macas improvisadas nos malcheirosos corredores de hospitais, onde falta tudo, do médico até o mais simples medicamento.

Francisco Espiridião é jornalista; [email protected].

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