Negociatas do Amapá
PF prende o atual governador, o ex-titular do cargo, o presidente do Tribunal de Contas do estado e outras 15 pessoas sob acusação de desviar cerca de R$ 300 milhões
Polícia Federal/Divulgação |
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Maleta recheada de dinheiro encontrada com um dos envolvidos no esquema de desvio de recursos mapeado pela Polícia Federal em Macapá
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Uma ação da Polícia Federal desarticulou ontem, em Macapá, um esquema de fraudes com recursos públicos da educação e da segurança e levou à prisão 18 pessoas. Entre elas, o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias de Carvalho (PP), o presidente do Tribunal de Contas do estado, José Júlio Miranda Coelho, e o ex-governador e candidato ao Senado Waldez Góes (PDT). A Operação Mãos Limpas é o resultado de uma investigação que apurou fraudes em licitações e compras (veja infográfico). Dos R$ 800 milhões repassados pela União para programas como o Fundeb (voltado para a educação básica) e o Fundef (que valoriza do magistério), ao menos R$ 300 milhões foram desviados.
A apuração teve início em agosto de 2009, quando a área de inteligência detectou o envolvimento de servidores do estado e da prefeitura de Macapá em desvio de recursos. Segundo informações da Controladoria-Geral da União (CGU), as auditorias determinadas pela PF encontraram várias irregularidades, como direcionamento nas licitações de compras de veículos e aquisição de equipamentos a preços superiores aos valores de mercado. Também está na lista de crimes o sobrepreço na execução de obras na área de segurança e na contratação de empresas. O esquema, de acordo com a PF, tinha ramificação na Superintendência de Agricultura e se estendia ao Tribunal de Contas do Estado, à Assembleia Legislativa e à prefeitura de Macapá.
A PF quebrou os sigilos bancário e telefônico de todo o grupo e chegou ao nome do governador. Pelo fato de o inquérito estar correndo sob sigilo, as autoridades que cuidam do caso não revelaram o grau de envolvimento de Pedro Paulo Dias nem das demais autoridades. A partir do instante em que os investigadores detectaram que o governador poderia estar entre os beneficiados pelas fraudes, a PF pediu à Justiça Federal que encaminhasse o caso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que indicou o ministro João Otávio Noronha como relator. Com a prisão do governador, assume o comando do estado o presidente do Tribunal de Justiça do estado, Doglas Evangelista Ramos.
Buscas
A PF realizou apreensões em todos os órgãos públicos envolvidos nas fraudes. Durante as buscas, os investigadores encontraram R$ 1 milhão em dinheiro, sendo que R$ 540 mil estavam em poder do secretário de Segurança Pública, Aldo Alves Ferreira, delegado federal cedido ao estado. Ele foi preso pela manhã, quando desembarcava no Aeroporto Internacional de Brasília. Outros R$ 250 mil estavam na casa do deputado Edinho Duarte, que chegou a ser preso por porte ilegal de armas, mas liberado após pagar fiança. O mesmo aconteceu com o prefeito de Macapá, Roberto Góes, primo do ex-governador Waldez de Góes.
Em João Pessoa, em uma casa do presidente do Tribunal de Contas, José Júlio Miranda Coelho, além de uma arma, a PF apreendeu cinco carros de luxo, incluindo uma Ferrari, duas Mercedes, um Maserati e um Mini Cooper. Coelho foi preso na capital da Paraíba e transferido ontem à noite para Brasília, para onde seguiram outros detidos em Macapá, incluindo Pedro Paulo e Waldez Góes. Além deles, também foram detidos o ex-secretário de Educação José Adauto Santos Bittencourt e o superintendente de Agricultura, Ruy Santos carvalho. Pedro Paulo e José Júlio Miranda Coelho ficarão na Superintendência da PF. Os demais serão encaminhados à ala federal da penitenciária da Papuda.
O número
Faltam
22 dias
para o 1º turno
Confira vídeo da operação da Polícia Federal.
Quem é quem
Veja onde atuavam os principais envolvidos no esquema
Pedro Paulo Dias de Carvalho
Governador do Amapá, é filiado ao PP. Está no cargo desde abril, quando o então governador Waldez Góes se licenciou para concorrer a uma vaga no Senado nas eleições de outubro.
Waldez Góes
Filiado ao PDT, foi eleito para o cargo de governador do Amapá em 2002. Quatro anos depois, foi reeleito no primeiro turno. Liderava as pesquisas de intenção de votos na corrida para o Senado.
José Júlio de Miranda Coelho
Presidente do Tribunal de Contas do Amapá e ex-presidente da Assembleia Legislativa do estado.
Marília Brito Xavier Góes
Casada com Waldez Góes, a ex-primeira-dama é delegada da Polícia Civil e comandou o Departamento de Polícia Especializada da Secretaria de Justiça e Segurança entre 1995 a 1996
Aldo Alves Ferreira
Delegado da Polícia Federal licenciado do órgão para assumir a Secretaria de Segurança.