- 26 de novembro de 2024
Morte e Vida Francenilda
SÃO PAULO - A ala "Maçaranduba" da coligação "O Brasil Pode Mais", aquela para quem o que faltava ao programa de José Serra era "porrada", não tem mais do que reclamar. Na noite de quinta-feira, na TV, o tucano foi ao ataque e apostou suas fichas no "tudo ou nada".
Talvez não restassem muito mais opções a Serra. Não só à luz da dificuldade em que se encontra sua campanha mas, também, em razão do significado, ao mesmo tempo pessoal e político, que o escândalo da Receita tem para a candidatura.
A um mês da eleição, precisando tirar seis pontos de Dilma Rousseff para provocar o segundo turno, Serra radicalizou e fez um programa de teor inteiramente negativo, em que ele próprio apareceu distribuindo críticas à campanha rival.
Antes dele, um apresentador veio arando o terreno, desfiando, em tom "soft-alarmista", um enredo que começava com o paralelismo um tanto forçado entre o caso Lurian e o caso Veronica ("a mesma baixaria contra a filha do Lula agora é usada contra a filha de Serra"). A seguir, passava pelos aloprados ("ninguém foi julgado nem punido"), pelo escândalo do caseiro ("não deu em nada", mas sem citar Palocci, o petista amigo) e pelo mensalão ("ninguém foi preso").
Feito o bombardeio, surge então Serra, como quem sobrevoa um cenário de ruína moral, para transmitir seu alerta: "Se continuar assim, todos nós seremos Francenildos".
Quando lançou sua candidatura, em abril, Serra tinha como lema "o Brasil é um só" e dizia em seu discurso inaugural: "Jamais rotularemos os adversários como inimigos da pátria ou do povo". Transcorridos alguns meses, o candidato rasgou o roteiro original e agora busca a unidade deste país "que é um só" numa suposta "condição francenilda", a que todos estaríamos condenados sob um governo Dilma.
É um apelo desesperado, de alto risco para Serra, que ainda pode funcionar. Ou representar mais um passo rumo à cova rasa que cabe à oposição no latifúndio do lulismo.