- 26 de novembro de 2024
A farra das eleições
Lá em casa nenhuma das minhas quatro meninas é chegada. Fazem por obrigação. Para cumprir tabela. Todas acham uma bruta de uma chateação ter de sair de casa cedo para a Escola Bíblica Dominical e, depois, antes do almoço, pegar fila, perder tempo ouvindo papo peculiar... Tudo muito chato. Para elas. Já para mim, uma delícia. Ponho tudo na conta do lazer. Gosto mesmo.
Votar, para mim, é um grande divertimento. Principalmente se a fila que leva à Zona, digo, à sessão, estiver quilométrica. No percurso, a gente ouve cada coisa! E, se o teu candidato é daqueles que não têm nenhuma chance de ser eleito (tipo MiÍ ?do, aquele que não desiste nunca), melhor ainda. Já entra sabendo que não vai ganhar. Assim, evita desilusões quando a urna parir seus rebentos.
É verdade que os momentos anteriores aos atuais, de "high tecnology", a coisa era mais emocionante. Ah! quantas saudades. A gente varava a noite na quadra do Ginásio Hélio Campos, de olho comprido sobre as urnas. Para evitar sabotagem. A Polícia? Ela estava lá, sim. Mas nunca se sabe...
A contagem dos votos durava às vezes até uma semana. Os candidatos numa verdadeira gangorra. Uma hora lá em cima, festejando a vitória. Outra, mais para baixo que a parte aproveitável da macaxeira. Um divertimento só. Para quem estava de fora, é claro. Para os que buscavam uma boquinha, digo, uma vaga no Parlamento ou mesmo no Executivo, parto complicado.
Mais um quesito a me deixar extasiado com o momento eleitoral: a forma como os candidatos se apresentam ao eleitorado. São todos bonitos. Já pre staram à atenção? Não tem, por exemplo, matronas de rugas. São todas jovens senhoras. Sem qualquer trocadilho, todas de caras lisinhas de fazer gosto.
Nesse particular, faço aqui, de público, uma reclamação pelo inusitado da discriminação a que estão sujeitos os candidatos masculinos. Por que não podem aparecer de corpo inteiro nas peças publicitárias? Assim, eles teriam a oportunidade de ostentar um corpo digno de "gatos sarados". Sem a barriguinha de chope que são obrigados a exibir na vida real.
Mas eleição é isso mesmo. Não existe nela justiça nem paridade exequíveis. Começa pelo nível de escolaridade dos "suplicantes" do voto. Aliás, quem já não pensou em fazer uma “brincadeirinha” ao se vir sozinho, na indevassável cabine? Calma! Recomendo: votem com a consciência. No fim, verão: tudo dará certo.
Francisco Espiridião é jornalista