- 26 de novembro de 2024
Eleitor emérito
RIO DE JANEIRO - Assisti sem entusiasmo e nenhum fervor cívico ao primeiro debate dos presidenciáveis. Antes, a Bandeirantes exibiu flashes de debates anteriores, que pelo menos eram mais divertidos.
Tinha Enéas prometendo bomba atômica para o Brasil, Mário Covas e Jânio Quadros se descompondo, Brizola reclamando da parcialidade da mediadora, Collor acabando com os marajás, Lula de barba espessa e negra cobrando mais liberdade sindical. Um show.
O debate da semana passada foi civilizado, mas óbvio, até mesmo chato. Os candidatos principais, Dilma e Serra, são convergentes, saíram da esquerda, têm programas paralelos ou complementares, um promete asfaltar 350 mil quilômetros de estrada, a outra promete asfaltar 345 mil quilômetros -as diferenças vão por aí.
Predominou em Dilma o ataque disfarçado ou ostensivo à gestão de FHC e, na mesma escala, Serra criticou o governo Lula do qual a adversária fez parte.
Marina expressou seu tema preferencial, o meio ambiente, no qual navega com incontestável autoridade, e Plínio, o único intelectual por ofício da turma, foi talvez o diferencial, com um discurso mais amplo, estrutural.
Enquanto os outros se contentaram com questões pontuais, mais isso e mais aquilo, menos despesa e mais renda, Plínio questionou o modelo social, com a óptica da esquerda que afinal gerou os quatro candidatos.
Apesar de tudo, acredito que virão outros debates e não será por falta de informação que o eleitorado ficará ignorando quem é quem. O que não impedirá a frustração posterior em grau maior ou menor conforme o andar da carruagem.
Como não votarei em nenhum deles (por tempo de serviço, considero-me eleitor emérito), torço para que tudo dê certo para todos.