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FRANCISCO ESPIRIDIÃO

A dengue e suas consequências


A dengue e suas consequências

Estou no estaleiro. Dessa vez, o motivo eu considero deplorável: a dengue. Não posso determinar o momento exato, mas, com certeza, fui picado por aquele mosquitinho danado batizado com nome pomposo de Aedes aegypti. O pior da dengue é a sensação terceiro-mundista que fica impregnada na carne.

Esforço-me para acreditar no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cruza o mundo propagando que somos um país civilizado, que empresta dinheiro a país rico, que tem saúde de Primeiro Mundo. Quando sinto os meus 106 quilos ser derrubados pelo Aedes, então, vejo que não dá. Tudo não passa de falácia ou discurso para inglês ver.

A dengue que me deixa mole, com dores em todo o corpo e os caroços dos olhos querendo saltar das órbitas, é o principal indicativo de que do Primeiro Mundo a gente ainda está a léguas de distância. Dengue é doença que grassa em locais onde a falta de higiene fala mais alto.

Dia desses, estava em casa quando passou uma dupla de agentes comunitários de saúde, da Prefeitura. Muito gentis, pediram para examinar o meu quintal. Depois de alguns minutos de minuciosa garimpagem, muito polidamente me agradeceram e fizeram um elogio: “Seu quintal está muito bem cuidado, continue assim!”.

Mas a dengue nossa de cada dia não depende apenas do nosso quintal em particular, mas também do do vizinho, das condições da nossa rua, etc. Você não tem como evitar que a água da chuva fique empoçada nos meios-fios das ruas por vários dias, meses até, por falta de um sistema de drenagem.

Nesses pontos de estrangulamento, invariavelmente, se vê lixo de toda natureza. De carcaça de animais a móveis deteriorados, tudo o que se pensar é possível encontrar. Um criadouro majestoso para o danado do mosquitinho indigesto.     

E não se pode culpar apenas o poder público. Este tem a maior responsabilidade no assunto, não cabe dúvida. Mas acredito também que boa parcela recaia sobre o cidadão. E aí já não é problema de gerenciamento administrativo-econômico, mas sim de educação. Nesse quesito, aliás, o povo brasileiro está a anos-luz de atraso.

Não raro se vê alguém jogando pela janela do carro papel ou latas de refrigerante ou cerveja vazias. Bitucas de cigarros parecem não ser consideradas lixo. Você entra num banheiro público, o sujeito que te antecedeu esqueceu-se de puxar a descarga. E por aí vai.

De nada adianta gastar o dinheiro de nossos tão escorchantes tributos com aquele inócuo carro fumacê seis horas da tarde, porque as minúsculas partículas do reagente químico que esparge jamais chegarão ao endereço das larvas do mosquito. É perda de tempo e de recursos.

A questão do Brasil é de educação. É de conscientização do cidadão de que se ele acumular lixo fora do lixo, seu ato redundará em criatórios para o famigerado mosquito. A dengue só será erradicada no País quando essa consciência for ativada. E isso demanda tempo. Não será feito por decreto do Seu Lula, de Dona Dilma ou de quem quer que seja.

Não sei o que dói mais, se as consequências da dengue ou as da falta de educação!

(*) Jornalista

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