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EDITORIAL

O Santo Ottomar


O Santo Ottomar

A eleição desse ano tem uma característica ímpar. Será a eleição em que o nome Ottomar Pinto, o brigadeiro, mesmo sem ter sido canonizado pela Igreja, poderá obrar milagres. Não à toa, os dois principais candidatos ao governo fazem uma corrida de fundo em busca de cair nas suas graças diante do eleitor. Querem o voto dos votos de Ottomar.

De um lado, a viúva Marluce e as filhas Marisa, Otília e Laura. De outro, a filha Marília. Ottomar será cantado em verso e prosa no horário eleitoral de rádio e TV. Não há dúvida de que muitos milagres serão creditados à sua hagiográfica figura, tudo com o objetivo de conquistar a aprovação do cidadão no momento exato em que este se achar imbuído do “poder”, na cabine indevassável.

É verdade que Ottomar morreu – talvez como quis – no cargo, com três anos de um governo pífio, sem grandes obras, sem projetos palpáveis em andamento, com problemas conjunturais no setor da saúde, na educação, na segurança e com estradas em situações deploráveis. Mas quem liga para isso?

A seu favor havia uma assembléia legislativa domada, sem oposição. Um deputado presidente aliado, acordado para ser o vice-governador nesta eleição. Um ex-governador atual deputado federal quietinho, devendo-lhe o favor de ter sido nomeado secretário de Estado para não correr o risco de ser preso. Um senador reeleito debaixo do braço, e um adversário nocauteado pelo resultado das urnas de 2006.

Ottomar morreu sem problemas. Passou os últimos meses de vida fazendo o que mais gostava: política e cortar gastos públicos, ali, na frente dos prestadores de serviços e dos fornecedores que, desesperados, precisando do pagamento dos serviços prestados ou do que forneceram, aceitavam na hora a redução de 20%, 30% e até 40% nos valores de suas faturas. Muitos anéis foram perdidos para ficar ao menos com os lisos dedos.

Em tempos de desesperança como o atual, quando qualquer vislumbre funciona como tábua de salvação, o nome Ottomar calça como luva a fomentar a utopia própria para embalar o inconsciente coletivo. O brigadeiro é, portanto, “O Bem amado”. O santo. O Santo Ottomar.

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