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Márcio Accioly

Vivos-Mortos


VIVOS-MORTOS

Quem não conhece a região que vai do estado de Pernambuco até Alagoas, lembrada agora por conta de cheias e intempéries que destruíram casas e abrigos (arrasando tudo em volta), não consegue imaginar o horror que o ser humano produz. Atravessamos ciclos de permanentes desgraças.

Nomes que identificam cidades da zona da mata sul pernambucana e do território alagoano, tais como Barreiros, Água Preta, Palmares e Rio Largo, nada significam para milhões de brasileiros cheios de atribulações e dramas infindos, eles próprios vítimas de seculares descasos e agressões.

São cidades bastante conhecidas de uma elite cuja ascendência se apoderou do país desde o início do século 16, quando Cabral aqui aportou, e em 1502 quando Américo Vespúcio trouxe da Ilha da Madeira as primeiras mudas da cana de açúcar que traria riqueza e êxtase para o baronato, desespero e agonia para infelizes escravos.

Os escravos, negros, mulatos, pardos ou brancos, continuam aos pés dos senhores da senzala, alimentando ainda a máquina estatal que lhes esmaga na sustentação de altos e privilegiados cargos com impostos escorchantes a produzirem fome e dor.

Quem já cruzou o estado de Alagoas, desde a divisa com Sergipe até subir em direção ao restante do Nordeste, seja pela BR-116 ou tomando em Maceió a estrada litorânea que descortina cenário paradisíaco na ligação com Pernambuco, tem a exata noção do que é abandono e desespero.

O Estado Brasileiro, não importa quem esteja no comando, é apenas empulhação. Na propaganda, mundo onde floresce Justiça e paz. No dia-a-dia, desordem institucional permeada de larápios onde nada funciona. Não existem presídios nem segurança, educação ou saúde, transporte público e tampouco rodovias.

E que não se culpe, como se pretende, a verdadeira quadrilha ora instalada pelo PT e seus 40 denunciados no escândalo do mensalão. A diferença é que a atual parece ter fornecido provas mais aparentes. A falta de responsabilidade é a mesma. Basta que se aventure cruzar Ministérios e autarquias.

No final da década de 90, quando o estado de Roraima teve incêndio que destruiu parte de suas matas (durando seis meses), o então presidente FHC por lá não colocou os pés. Seis meses! Nem precisava porque nada faria. Ou alguém acha que a Petrobrás extrai óleo por conta do conhecimento de Lula?

Todos são iguais e calçam 40. A corrupção é ponto pacífico que só varia na forma de justificação dos desvios. Ou alguém acredita na capacidade empresarial do filho do presidente (Lulinha), assim como não se acreditava na honestidade do filho de FHC (que enriqueceu de forma escancarada e nada aconteceu)?

O que se noticia agora é que, decorrido meses da violência das águas que arrasaram cidades pernambucanas e alagoanas, tudo continua exatamente igual. Não chegou dinheiro e está faltando comida, porque os holofotes foram apagados.

Depois do passeio de helicóptero pelos dois estados, o presidente da República foi cuidar de transações entre companhias telefônicas e garantir o futuro de Lulinha.

A miséria do Nordeste e o abandono do Brasil acumulam desmandos seculares que se robustecem na falta de ação e na insensibilidade dos que se locupletam abertamente. O país é uma casa de mortos-vivos, consciente de que os seus governantes não merecem o mínimo respeito.

Somos um país amordaçado pela pornografia televisiva e pela repetência de crimes hediondos cujos culpados não ultrapassam prazos de prisão preventiva. Nação de zumbis e retardados, idiotas que se veem sempre obrigados a dizer “sim”!

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