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EDITORIAL

A grampolândia do Norte


A grampolândia do Norte

O medo de escutas telefônicas em Roraima instalou-se faz 12 anos, numa época de campanha, tal qual a agora vivenciada. Neudo Campos, então governador e candidato à reeleição, e vários assessores foram as vítimas do deslavado grampo. As conversas, as mais comprometedoras possíveis, falavam em pagamentos paralelos "folhas de compensado", "bolachas", "guloso gatinho" e outras palavras e expressões.

Além da troca de idéias e pagamentos feitos ou a serem executados por meio de caixa dois gravou-se até sugestões para calar um determinado promotor de justiça: "Dá alguma coisa pra ele", sugere a ex-primeira-dama Suely Campos. "Não pode, Suely", responde a então chefe da Casa Civil, Cilene Salomão.

De lá pra cá, grampos telefônicos viraram paranóia geral de quem tem alguma coisa a guardar debaixo do tapete. Falar com meas palavras e em códigos virou rotina.

Multiplicaram-se os suspeitos de realizar tais escutas. Entre eles, a própria Polícia Federal, resguardada por hipotéticas permissões da Justiça Federal. O fantasma das gravações estava por todos os lugares. Suspeitas sem qualquer prova.

Dados de contas bancárias e sigilos fiscais e telefônicos são garantias individuais. São protegidos por lei. A quebra de qualquer desses princípios sem autorização judicial constitui crime. Logo, se não há amparo judicial, os servidores que fizeram isso são criminosos.

Por outro lado, se constatada a permissão da Justiça, há de se aquilatar até que ponto vai essa permissão. De maneira nenhuma deve ser uma carta branca, convidativa a que funcionários sem escrúpulos usem e abusem do dispositivo permissivo.

Há também de se analisar que, caso a Polícia Federal decidisse bisbilhotar, gravando tudo e todos, não lhe sobraria tempo para fazer mais nada, a não ser decupar horas e horas de conversas alheias. Isso seria o cúmulo do absurdo.

Mas, se por um deslize do destino ou pura suposição, isso ocorresse, baseado em que os pedidos de escuta teriam surgido e o que levaria a Justiça a aprová-los?

Enquanto nada do que foi escrito acima fica esclarecido, a síndrome, a paranóia e a boataria correm soltas, fazendo de Roraima a “grampolândia” do Norte.

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