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Márcio Accioly

Ficha Limpa e nossos desastres


FICHA LIMPA E NOSSOS DESASTRES

A tragédia das enchentes no Nordeste brasileiro, com o “tsunami” que devastou inúmeras cidades de Pernambuco e Alagoas, mostrou novamente ao país Região esquecida e miserável que não dispõe de mínima infraestrutura, e na qual as relações sociais em pouco ou quase nada diferem das estabelecidas ao tempo da escravidão.

O que fica bem claro e assusta é a certeza de que o Brasil não deu certo. Trata-se de país do oba-oba, onde a televisão impõe pauta de discussões e determina seus rumos, numa ação orientada de fora para dentro em prática de visível domínio. No Brasil do século 21 (transformado em bordel), a ignomínia tornou-se normalidade.

Vivemos cheios de invencionices e mentiras. Massacrados por festas e arranjos que nada deixam de produtivo ou positivo. Carnaval, futebol, são João, novelas, BBBs e programas de auditório de baixíssimo nível, aparato que privilegia a malandragem e um jeitinho cujo resultado gritante é a falta de perspectiva. Festa permanente.

Há de se falar bem alto e em bom som: somos um país doente, dominado por ladrões e analfabetos (a maioria diplomada), pessoas sem qualquer compromisso com o futuro, até porque a desinformação e o despreparo as levam crer unicamente num imediatismo que só faz aprofundar nosso desespero.

Como solução para o alto grau de analfabetismo, cotas foram instituídas. Somos, talvez, o país onde mais existem pessoas diplomadas per capita no mundo! Mas tente-se fazer com que algumas delas redijam um ofício.

De vez em quando as coisas acontecem como uma onda: vêm e passam. Quem não se lembra do avião da TAM no aeroporto de Congonhas, no dia 17 de julho de 2007? À época, o ministro Nelson Jobim (Defesa), garantiu que todas as providências seriam tomadas, que novo aeroporto seria construído, etc. e tal.

Sua excelência, inclusive, compareceu a Congonhas vestido de bombeiro (ele, antes, já tinha vestido farda de general, segurado uma jibóia na Amazônia, com ações de impacto para impressionar incautos). E o que se fez desde então? Que providências concretas foram tomadas com o objetivo de se prevenirem outras tragédias?

Aqui estamos sempre à espera de novos desastres, quando atentas autoridades anunciarão providências indispensáveis só para aparecerem bem nas fotografias. Nada além. A memória humana é fraca e a televisão está aí para determinar o que é ou não importante. Num país onde não se estuda ou lê, discute-se o que as TVs apresentam.

Na nova onda, aprovou-se agora a lei que se convencionou chamar “Ficha Limpa”, jogada mal elaborada pelos principais atores (saiu pela culatra de boa parte da classe política), e que o Judiciário em boa hora resolveu adotar. Quem dos corruptos em são consciência pretendia vê-la colocada em prática nalgum ano?

Temos visto pessoas envolvidas nos mais escabrosos desmandos a participarem de postos importantes na administração pública, detendo mandatos eletivos. Fica difícil destituí-las dos cargos, pois são responsáveis pela elaboração das leis.

A nova desgraça que se abateu sobre o Nordeste deverá ser amontoada a tantas outras acontecidas e não resolvidas. Mas é preciso que se dê o primeiro passo em busca de justas saídas. Ou veremos o país explodir a médio ou curto prazo num cipoal de más decisões e desordenamento.

A propaganda oficial dos diversos governos que entram e saem não conseguem esconder o flagelo do Nordeste, o analfabetismo nacional, a ausência de transporte público, Saúde e falta de presídios. Quantos desastres serão ainda necessários?

Vamos torcer para que o Ficha Limpa funcione, impondo restrições à reincidência de abusos. E que eles não anulem tudo isso na primeira oportunidade.

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