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ARTIGO

Mais uma para a minha coleção


Mais uma para a minha coleção

(*) Francisco Espiridião

Dia desses cometi uma gafe. Não uma pequenina, mas daquelas, das maiores. Aliás, gafe, para mim, é café pequeno. Esta foi mais uma a florir o meu jardim. Aconteceu numa das raras tardes ensolaradas de maio nesta região tropical. No trajeto aéreo entre Boa Vista e Manaus.

Sentado ao meu lado estava o senador Augusto Botelho (PT). Puxei conversa sobre política, indaguei-lhe sobre as previsões do editor do Fontebrasil Edersen Lima, que jurava que Botelho não sairia candidato à reeleição, etc. e tal. 

O Edersen havia algum tempo escrevia em sua Opinião Formada que a candidata do PT ao Senado seria, como de fato caminha para a confirmação final, a deputada Ângela Portela. Aliás, está sacramentado. O bolchevique Titonho já bateu o martelo.

O senador, no entanto, rechaçou a informação, garantindo que o falatório não passava de intriga da oposição. Tudo ia tão bem. Eu levantava hipóteses outras sobre a política macuxi, o senador rebatia com a destreza de um jogador de tênis.

Mas... apesar dessa afinidade nada habitual entre mim e o senador, a conversa não deslizava como água em canaleta morro abaixo. Estava mais para carro velho tentando pegar no tranco.

Até que o senador se vira para mim e pergunta de chofre: "Tu também és do PT?" Minha resposta saiu também de supetão: "Deus me livre!" Que falta de sensibilidade a minha! Que gafe, mané!

Imediatamente, caiu o termômetro do bate-papo informal. Acho que, naquele momento, a repimboca da parafuseta do carro velho foi prás cucuias. O senador pôs um par de tapa-ouvidos e óculos escuros que catara em sua maleta de mão acima de nossas cabeças. E fechou a janela do avião. E dormiu.

Desci no Eduardo Gomes, enquanto o senador permanecia entregue aos embalos de Morfeu. Curtia merecidamente o sono dos justos. Era uma segunda-feira. Ele prosseguiria sua viagem até Brasília, talvez sonhando com a tão almejada reeleição. 

Aí, chega o fim de semana passado. Confirma-se o presságio do editor do Fonte. A decisão que mais Botelho temia, enfim, a rasteira de seu partido – segundo suas próprias palavras. É a vida, Senador! Bola prá frente, que daqui a pouco começa a Copa da África do Sul. Braziu-ziu-ziu!

(*) Jornalista, autor de Até Quando (2004) e Histórias de Redação (2009); e-mail [email protected]; blog www.franciscospid.blogspot.com.

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