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ARTIGO

Senador ou médico?


SENADOR OU MÉDICO?

Por Rodrigo Costa

O poder inebria e corrompe o homem, dizem. Acredito ser verdade pois o tempo e os fatos têm demonstrado isso. Lendo o jornal Folha de Boa Vista de hoje, 31/05/10, deparei-me com as declarações do atual Senador da República Augusto Botelho, cujo mandato finda dia 31 de janeiro de 2011, e não pude deixar de ficar no mínimo espantado com as declarações emanadas por ele a respeito da atual corrida eleitoral em que o Partido dos Trabalhadores – PT , por meio do Diretório Regional, preferiu a candidata Ângela Portela como candidata da sigla a uma das vagas ao Senado Federal.

O ilustre médico, ora Senador, alega ser vítima de traição, cabotinagem, nas palavras dele. Esquece, porém, que os mais de 70 mil eleitores que o colocaram no cargo que ora ocupa também foram traídos, mesmo dando a ele uma votação espetacular, após uma campanha "com os pés no chão", como ele dizia, e da qual participei com o pouco de que dispunha à época: parcos conhecimentos jurídicos, uma caminhonete Toyota e dois braços e pernas para dirigir pelo interior do Estado de Roraima afora, dia e noite, acreditando que realmente Roraima teria um político diferente daquilo que já existira, ou seja, um político sério, ativo e honesto. Campanha essa feita com poucos recursos financeiros e materiais, sem contar o descrédito dos próprios familiares (que após a eleição ocuparam os melhores cargos em seu gabinete no Senado, diga-se de passagem, dando a ele, a partir de então, absoluta atenção).

Digo que foram traídos porque por pura conveniência e visando tão-somente acomodar seus afilhados em cargos públicos na esfera estadual como FUNAI, DFARA, entre outros, debandou-se para o PT, deixando o partido pelo qual fora eleito, o PDT, passando a apoiar o então governador Flamarion Portela, posteriormente cassado, acusado, entre outras coisas, de compra de votos, abuso do poder econômico, além de ter participado do esquema conhecido como "gafanhotos" e levado o Estado de Roraima à total estagnação (que falem apenas os professores, testemunhas da "evaporação" dos recursos do FUNDEF). Ora, o próprio Senador cansou de dizer em seus comícios: "ladrão que apoia ladrão, é ladrão também", deve estar gravado ou filmado em algum lugar.

Digo que foram traídos porque depositaram suas expectativas em um senhor de cabelos grisalhos, bonachão, simpático, que andava de ônibus pela periferia de Boa Vista fazendo promessas e distribuindo sonhos que nunca se concretizaram.

Digo que foram traídos porque votaram em alguém de quem nunca ouviram falar, a não ser durante a campanha eleitoral, e que nunca havia ocupado qualquer cargo público como político, recebendo, mesmo assim, a total confiança de mais de 70 mil pessoas, desbancando a também então inerte Senadora Marluce Pinto e se elegendo Senador da República.

Foram traídos porque viram, mais uma vez perplexos, passar mais de 7 anos de mandato mas não viram mais o Senador bater às portas deles ou andar de ônibus pela periferia, nem para pedir votos aos aliados dele. Tampouco viram um Senador ativo, altaneiro, realizador de projetos, lutando pelos interesses do Estado de Roraima e da população que aqui vive.

Ao contrário, viram um Senador que se omitiu (ou ficou em cima do muro), o que dá no mesmo, quando das discussões mais relevantes, como, por exemplo, a questão da demarcação da área indígena Raposa-Serra do Sol e a questão da retirada dos arrozeiros das terras por eles ocupadas há décadas.

Viram, sim, um Senador opaco, sem ação, sem voz e sem atitude, discursando na tribuna do Senado sobre câncer de mama, câncer de útero, etc. Ora, o povo queria um Senador, não um médico.
Viram um Senador que prometeu revolucionar a política local apoiar o ilustre desconhecido, engenheiro falido (mais um), e atual governador José de Anchieta Júnior em um governo medíocre, falacioso, inoperante, que leva o Estado de Roraima à quase ruína, visto que absolutamente desprovido de projetos que visem a uma estruturação do estado e que, por pura incompetência, sequer consegue manter a infraestrutura já existente, como a BR-174, as escolas-padrão, o sistema de saúde (à beira do caos, frise-se).

Esses foram os passos resumidos de 7 anos de mandato do Senador Augusto Botelho, que hoje fala em traição e não aceita, ou não entende, que o povo declinou do nome dele em favor de outro candidato, na esperança de que, efetivamente, seja um candidato melhor para Roraima e, caso eleito, seja um Senador, ou Senadora, de fato e de direito, lutando e expondo seus posicionamentos abertamente, agindo de forma eficiente e eficaz, trazendo recursos e aplicando-os nos lugares certos.

É disso que um Estado pequeno como Roraima necessita. Políticos fortes e comprometidos. Um dia chegaremos lá. Dizem que é difícil abdicar do poder mas o povo prefere a volta do médico Augusto Botelho, esse sim, um médico de fato e de direito.

Advogado, servidor público e eleitor.

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