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Francisco Espiridião

Uma lenda chamada Josimar


Uma lenda chamada Josimar

Nessa sexta-feira, à noite, encontrei o cidadão Josimar Higino Pereira. Como qualquer ser normal, saboreava tranquilamente um peixe no escabeche, recheado a uma boa e agradável companhia. Isso tudo num boxe instalado de forma precária na lateral direita da Estação Rodoviária de Boa Vista.

Além de delicioso e barato, o local é aconchegante, principalmente por ficar ao ar livre e dispor de garçons e garçonetes atenciosos. Um deles, o próprio dono do pequeno negócio. A coisa pega quando a chuva resolve dar o ar da graça, é claro. Mas, aí já é outra história. Além do mais, isso não aconteceu naquela noite. Pelo menos enquanto estivemos lá.

Aí você me pergunta: “E eu com isso? Quem é Josimar Higino Pereira, para merecer tão grande deferência de um decadente articulista?” Calma, refresco-lhes a memória: trata-se daquele lateral-direito que brilhou muito – não no Corinthians, mas sim – na Seleção Brasileira liderada pelo técnico Telê Santana, na Copa de 1986, no México.

Nesta época de Copa do Mundo, não me furtei a interpelá-lo. Não foi nenhuma entrevista, reconheço. Até porque eu sequer cheguei a me apresentar como jornalista. Na verdade, depois de tudo, analiso que agi mesmo como tiete diante de pessoa tão importante, que tantas alegrias dera ao Brasil.

Foram apenas dois gols com a camisa da Seleção Canarinho. Mas, convenhamos, dois gols numa Copa do Mundo não é coisa para qualquer um. Tantos campeões estão lá há anos e nunca fizeram nenhum! Ir para a Copa já é um feito inominável. Ainda mais nas condições em que Josimar embarcou.

Convocado de última hora, ele substituiu o “insubstituível” Leandro, que desistira no último momento de ir à Copa do México em solidariedade ao colega Renato Gaúcho, cortado por indisciplina pelo técnico Telê Santana.  

Quando vi Josimar ali, sentado próximo a mim, resolvi cumprimentá-lo. A primeira pergunta que me veio à mente foi: “Como você se sente nesse momento de grande expectativa, com a Copa do Mundo às portas?” Estava pronto para ouvir como resposta algo rebuscado, comportamento próprio daqueles que se acham “o cara” (o que ele fora, sem dúvida!).

Qual nada! A resposta foi tão simples que me desconcertou: “A gente fica apreensivo, torcendo para que tudo dê certo, como qualquer brasileiro”. Aí, me lembrei que ele jogava ao lado de ninguém menos que Zico, Alemão, Sócrates, Edinho, Júnior... Só fera do futebol brasileiro na época.

Segurando a emoção, aproveitei para dizer-lhe que ainda tinha nítida na memória a imagem daqueles dois gols importantes que ele marcara contra as seleções da Irlanda do Norte e da Polônia.

Demonstrando ar de agradecimento, Josimar simplesmente me abraçou. Agiu como quem se vê recompensado por ter sido lembrado. Senti naquele momento que ainda é possível existir no ser humano uma virtude tão escassa nesses dias conflituosos: a humildade.

Josimar, você merece não só ser lembrado, mas também festejado pelas alegrias que proporcionou ao povo brasileiro. Que Deus te abençoe!

(*) Jornalista, autor de Até Quando (2004) e Histórias de Redação (2009); e-mail [email protected]; blog: www.franciscospid.blogspot.com/

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