Sofrido, mas merecido

Jeito moleque de Neymar e personalidade de Paulo Henrique Ganso para colocar a bola no chão e até peitar o técnico garantem o 18º título do Santos em um duelo dramático contra o Santo André

São Paulo — Depois de encantar até mesmo os torcedores adversários, o Santos renunciou ao futebol-arte que deu à equipe o status de sensação da temporada e por pouco não deixou escapar o título do Campeonato Paulista. Mesmo com a vantagem de jogar por empate ou derrota por um gol de diferença, o alvinegro abusou da violência para segurar o Santo André, teve três jogadores expulsos e se encolheu na defesa. Mas brilhou a estrela de Paulo Henrique Ganso. “Maestro do Peixão”, como a torcida cantou ao fim da partida, o meia fez uma das melhores exibições com a camisa alvinegra e foi fundamental para a conquista do 18º título estadual do clube.

Em vez de partir para cima e mostrar o futebol ofensivo exibido durante toda a competição, o Santos mostrou um lado até então desconhecido. Cauteloso, o técnico Dorival Júnior abdicou novamente do vitorioso esquema com três atacantes, deixando André no banco. Além disso, promoveu a entrada do volante Mancha no lugar do suspenso e sempre ofensivo Wesley.

Pressionado desde o primeiro minuto pela rápida equipe do Santo André, que abriu o placar aos 30 segundos de jogo, o Peixe perdeu a cabeça com faltas excessivas, muita reclamação e marcação frouxa, dando espaço para o time do ABC partir para a frente e fazer o alvinegro provar do próprio veneno.

Mas se os veteranos Léo, Marquinhos e Roberto Brum, todos com passagem pelo futebol europeu, quase colocaram o título em jogo ao serem expulsos — o primeiro por discussão com o centroavante Nunes e os outros por carrinhos criminosos por trás no meio de campo — Ganso mostrou a categoria de um jogador completo. Quando as expulsões ainda não haviam dado tons dramáticos à partida, ele deu um passe de letra na entrada da grande área e deixou Neymar livre para empatar o jogo em 2 x 2.

Depois, quando Marquinhos e Brum foram para o chuveiro, coube ao meia ser o único armador da equipe, além de ajudar na marcação. E as duas tarefas ele cumpriu com genialidade.

Faltava apenas mais um gol para o Ramalhão se transformar em uma das maiores zebras do futebol brasileiro. Com o tempo passando, bolas na trave do goleiro santista e a desvantagem numérica pesando e muito, só restava ao Santos manter a posse de bola e esperar o tempo passar.

Foi aí que Ganso mostrou personalidade. Chamou o jogo para si, mantendo sozinho a bola no campo de ataque. O Santos já não contava com Neymar e Robinho — ambos substituídos por homens de defesa. Aos 20 anos de idade, o jogador até peitou o técnico Dorival Júnior e se negou a ir para o banco. “Pensei em uma alteração, mas ele pediu para não sair. Foi uma atitude de homem. Ele chamou a responsabilidade e fez uma ótima partida”, elogiou o treinador.

Com uma atuação digna de convocação para a Copa do Mundo, com direito a chapeuzinho, assistências, cobrança de todas as faltas e escanteios, além de desarmes, o jogador mostrou tranquilidade ao ser questionado sobre Seleção. “Se Paulo Henrique e Neymar não forem nessa convocação, nós vamos continuar trabalhando, pois sabemos que podemos estar lá em um futuro próximo. Esse é o nosso sonho”, comentou o paraense, emocionado com o primeiro título profissional.


PLACAR

Santos - 2
Felipe; Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Rodrigo Mancha, Arouca, Marquinhos e Paulo Henrique Ganso; Neymar (Roberto Brum) e Robinho (André)
Técnico: Dorival Júnior

Santo André - 3
Júlio César, Cicinho (Rômulo), Halisson, Cesinha e Carlinhos; Alê (Pio), Gil, Branquinho (Rodrigão) e Bruno César; Rodriguinho e Nunes
Técnico: Sérgio Soares

Gols: Nunes, aos 30 segundos, Neymar, aos sete, Alê, aos 19, Neymar, aos 31, e Branquinho, aos 44 minutos do primeiro tempo n Cartões amarelos: Rodriguinho, Júlio César, Alê, Carlinhos, Cicinho, Rômulo, Halisson, Pará, Neymar, Paulo Henrique Ganso Cartões vermelhos: Nunes, Léo, Marquinhos e Roberto Brum
Público: 35.001 pagantes
Renda: R$ 2.349.455


O ILUMINADO
Se Ganso chamou a responsabilidade para si depois das expulsões, Neymar fez a diferença antes delas. Foram dele os dois gols que garantiram o título ao Santos. O primeiro foi uma golaço: ele recebeu de Robinho e driblou meia zaga na grande área antes de chutar para as redes. No segundo, o gol de número 100 da equipe este ano, ele mostrou categoria ao chutar a bola no canto, indefensável, se redimindo da péssima partida no último domingo.

 

Miguel Schincariol/Perspectiva/AE

Ricardo Saibun/AGIF/D.A Press

Nelson Antoine/Fotoarena/Agência O Globo

• Felipe Seffrin