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Francisco Espiridião

Crescendo feito rabo de cavalo


Crescendo feito rabo de cavalo

É de espantar a frieza do secretário de Economia, Planejamento e Finanças da Prefeitura de Boa Vista, Getúlio Cruz, ao anunciar a demissão de mais de 10 mil servidores não concursados.

O homem falou com exclusividade ao Jornal Roraima Hoje (edição de sexta-feira, 26) com a tranqüilidade de quem dava uma alvissareira notícia. E pior, sob os olhares de aprovação incondicional de seu chefe-mor, o prefeito Iradilson Sampaio.

É impressionante a insensibilidade de determinados senhores do poder, que tratam com gente como quem trata com máquinas. É como se estivesse dizendo: “Essas máquinas estão obsoletas, Iradilson, velhas demais, estão consumido muito combustível. Vamos descartá-las!”.

Para eles, simples serviçais comem por presunção. Esse negócio de pobre querer se alimentar três vezes por dia é luxo descabido, ora! Quê que é isso? Onde já se viu pobre querer receber salário no fim do mês? Aqui, não!

Mais de dez mil perderão o emprego no fim do mês. Ou seja, terão negada a única forma honesta que conhecem de ganhar o pão de cada dia. Não interessa quem tem dívidas a pagar... quem tem filho pequeno a chorar a falta da mamadeira... quem está pagando plano privado de saúde para tratar pessoa da família, vez que o serviço público é incapaz de bancar... Nada disso importa.

O que está em jogo é, unicamente, o fato de a Prefeitura estar sem dinheiro. Fruto da insensibilidade de Sua Excelência, o Presidente Lula da Silva, que decidiu capar o FPM (o tal Fundo de Participação dos Municípios), enquanto vê sua popularidade bater nas nuvens.

Quem, a não ser o zé-povinho, a ser sacrificado para fazer frente a tamanhas necessidades do erário municipal? Dizer qualquer coisa numa hora dessas seria ensinar padre nosso a vigário. Afinal, é mais que sabido que despesas supérfluas abundam no serviço público.

É mais fácil cortar o salário dos pobres desamparados, que ganham pouco mais que o salário mínimo por mês, que mexer em pontos nevrálgicos, mais agressivos do que casa de caba cutucada. As verbas de representação, por exemplo, são intocadas. Os altos salários, como diria Magri, “imexíveis”.

E isso tudo numa terra onde não há alternativas ao serviço público. É a mais pura verdade que jamais se tratou de costurar um plano de desenvolvimento para Roraima capaz de gerar empregos para a população a ponto de liberá-la do contracheque chapa-branca.

Qual a indústria que prospera acima do Equador neste país tupiniquim além daquela que mostra o resultado final de sua produção num dos leitos da maternidade de Boa Vista? Qual o incentivo que o povo tem para montar seu próprio negócio fora da economia informal?

Por outra, quem aguenta pagar os exorbitantes tributos impostos sobre o lombo do carregador de malas? Cada vez mais estou convencido de que, neste País, somos escravos de uma aristocracia burra. De uma elite dominante que tem na boçalidade o seu maior talento.

Tem razão o líder conservador norte-americano Lyndon LaRouche, ao afirmar, referindo-se ao povo brasileiro: “Estamos lidando com uma sociedade cujo povo não tem consciência dos direitos elementares inerentes à vida”. Os senhores do poder demitem sem justa causa. E fica tudo por isso mesmo.

Como sociedade, estamos longe de alcançar a verdadeira civilidade. O quadro que se desenha num futuro iminente nos remete a nos prepararmos para a proliferação de vendedores de DVDs piratas nas calçadas e malabaristas debaixo dos semáforos. Sem dúvida, estamos crescendo. Feito rabo de cavalo. Para baixo!

(*) Jornalista, autor de Até Quando? (2004) e Histórias de Redação (2009); email: [email protected]; blog: www.franciscospid.blogspot.com

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