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Proposta

Mutirão contra a violência


Mutirão contra a violência

Teresa Jucá*

(É preciso humanizar a abordagem da violência ...)

Por onde eu tenho andado, a violência urbana tem sido uma das grandes preocupações que surgem em comentários de conhecidos e amigos. Todos, amedrontados, sentem a necessidade de cobrar das autoridades ações duradouras para o enfrentamento desse problema comum nos bairros de nossa cidade.

Como ex-prefeita e cidadã de Boa Vista, convivo com o problema e me sinto na obrigação de vir a público discuti-lo. Essa obrigação ficou mais forte ontem, quando vi a notícia de que dois adolescentes, um de 15 e outro de 17 anos, mataram um pai de família de 49 anos.

O momento é de trazer para o debate esse problema. A sociedade como um todo tem o dever de buscar soluções não só imediatas, como as ações repressivas, mas também a longo prazo, buscando principalmente a prevenção desses crimes que, em boa parte, tem envolvimento de jovens e adolescentes.

A ação policial é fundamental, mas será sempre insuficiente caso não sejam tocadas as raízes da violência. A desagregação familiar e a falta de referências afetivas, a falta de oportunidades educacionais e profissionais, a falta de reconhecimento do problema e suas causas por parte da sociedade e do poder público desafiam-nos e nos chamam à reflexão.

Se as famílias estão falhando, por não conseguirem mais dialogar com seus filhos, impor limites, vigiá-los e educá-los, então compete à sociedade reconhecer o problema e aos governos, em última instância, garantir políticas públicas de promoção da pessoa humana e da família, somando-as às políticas de segurança pública, como constatei no trabalho que fiz por dez anos à frente da Prefeitura de Boa Vista, com o Projeto Crescer e vários outros. Comento com conhecimento de causa.

Temos visto muitos adolescentes se encaminharem para o crime, por vários motivos. Políticas de recuperação do jovem infrator são necessárias, mas somente serão efetivas se a sociedade e os operadores dessas políticas gostarem daqueles jovens e reconhecerem que, mais que a punição ou castigos maiores, eles precisam de oportunidades. Deve-se reconhecer que eles mesmos sofrem a violência que praticam e precisam ser amparados, assim como suas famílias, suas vítimas, as famílias de suas vítimas, e os agentes públicos, como os policiais, que são obrigados a conviver com essa lamentável rotina.

Se não houver um trabalho preventivo, com a ação forte de programas sociais, vamos continuar assistindo, de forma impotente, esses jovens se envolverem primeiro com a delinquência e, mais tarde, com o crime, destruindo não só sua própria vida como a vida de pais de família, como é o caso que ocorreu na madrugada de ontem.

Há que re-humanizar o tratamento dessa questão. Há que constatar, mais uma vez, que antes da repressão deve-se optar por privilegiar a prevenção. É muito mais viável reforçar na criança e no jovem valores e comportamentos socialmente adequados do que tentar recuperar pessoas embrutecidas pelo cometimento de crimes e por uma rotina de privação material e afetiva. Foi este princípio que nos levou a ter êxito no Projeto Crescer. Recuperá-lo é fundamental para possibilitar execução e a continuidade das políticas públicas di recionadas para os jovens carentes, bem como uma diminuição da violência em nossos bairros.

*Ex-prefeita de Boa Vista e idealizadora do Projeto Crescer.

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