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Índios preservam tão bem quanto parques
Os parques nacionais e reservas naturais podem não ser a forma mais eficiente de conservar a biodiversidade a longo prazo. Um estudo divulgado ontem por uma organização ambiental americana afirma que comunidades tradicionais, como grupos indígenas, têm feito esse trabalho de forma eficaz -e investindo mais nisso do que governos, por exemplo.

CLAUDIO ANGELO Os parques nacionais e reservas naturais podem não ser a forma mais eficiente de conservar a biodiversidade a longo prazo. Um estudo divulgado ontem por uma organização ambiental americana afirma que comunidades tradicionais, como grupos indígenas, têm feito esse trabalho de forma eficaz -e investindo mais nisso do que governos, por exemplo. O relatório, produzido pela ONG Forest Trends e lançado em Genebra, é o primeiro levantamento global do papel dos grupos tradicionais na conservação de florestas. Ele estima que 370 milhões de hectares de floresta estão hoje nas mãos dessas comunidades. Uma área quase tão grande quanto os 479 milhões de hectares protegidos oficialmente. O estudo também aponta que essas comunidades, em países pobres como Brasil, Tailândia e Indonésia -que concentram a maior parte das florestas- acabam gastando, em trabalho e recursos financeiros, até três vezes mais que o total destinado à conservação pelos países ricos sob a forma de ajuda externa ao desenvolvimento: US$ 1,2 bilhão a US$ 2,6 bilhões contra US$ 350 milhões a US$ 420 milhões por ano. Os dados de investimento das comunidades tradicionais foram estimados pelos pesquisadores Sara Scherr, Augusta Molnar e Arvind Khare com base em programas de apoio ao manejo florestal comunitário. "A ajuda ao desenvolvimento é totalmente inadequada para a conservação", disse Scherr à Folha. Além de serem tão eficientes quanto os governos, as populações tradicionais também estão conservando a biodiversidade em áreas críticas, como a mata atlântica, nas quais a forte presença humana impede a criação de parques e reservas. Um exemplo de caso de sucesso citado no estudo são as áreas indígenas da Amazônia brasileira. Apesar de muitas delas estarem mais próximas da fronteira agrícola do que várias áreas de conservação, não há diferença significativa na cobertura florestal entre umas e outras. À primeira vista, a informação não espanta: afinal, caboclos, indígenas, comunidades extrativistas e pequenos agricultores são grupos geralmente pobres, que usam baixa tecnologia e que, portanto, não podem causar tanta devastação quanto, digamos, um rico plantador de soja. "Esse é um lado da moeda", afirma Scherr, professora de economia agrícola da Universidade de Maryland, nos EUA. "O outro lado é que várias dessas comunidades possuem normas culturais compatíveis com a conservação." Segundo Scherr, os governos têm desperdiçado a oportunidade de se aliar a essas comunidades -reconhecendo direitos à terra ou simplesmente incentivando o mercado de produtos florestais- e garantir conservação a baixo custo. "Os parques nacionais são fundamentais mas, se nós concentrarmos todos os recursos neles, falharemos." Fonte: Imagem extraída do site 'http://www.giacometti.org.br/kids/htm/eco_amazonia.htm'
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